domingo, 11 de novembro de 2012

Ensaio sobre a normalidade

      Sófocles sempre fora um menino diferente. A anormalidade é um espanto aos normais. Sófocles era um espanto aos normais. Pela noite, Sófocles cantarolava e recitava seus poetas enquanto o mundo dormia; pela manhã, seu "bom dia" era caloroso e sincero e arrancava sorrisos a qualquer um que por ele passasse; num debate, seu parecer e opinião sincera e coesa sabedoria trazia consigo a solução de dilemas e resolução de conflitos que maravilhava a todos aqueles que perderam o apanágio de ver o óbvio; ou então  numa situação de desespero e morte, Sófocles avistava o belo mesmo em meio ao cenário horrendo e frívolo ao passo que os indivíduos ordinários perdiam as esperanças e adentravam ao mais severo inverno da existência. Mas num mundo multilinear toda realidade é entrópica. Sófocles cansou de correr contra corrente e exalar o bom perfume.
      "Qual o motivo de percorrer o caminho oposto?", indagava ele. "Afinal, todos são iguais e toda diferença é meramente estranha, alienígena e lunática". Sófocles então decide adentrar num processo lento e paulatino de "normatização", isto é, tornar-se ordinário. Pouco a pouco sua cosmovisão inocente passa a ser trocada por outra mundanizada e perversamente ordinária; as rosae pulchrae sunt não o são mais; tudo se fez banal. Adentrou, pois, à porta conduz à mais miserável das ruínas. Passou a falar o que todos falam e a deixar de lado seus poetas prediletos; deixou de lado suas canções mais exímias para afogar-se num mar de sons meaningless, o por do sol perdeu seu resplendor e a lua já não brilha como dantes. Tudo se tornou normal. A vida exaurida trouxe à tona o vazio que assola e aprisiona. Sófócles morreu. Tal morte não se trata de óbito fisiológico, mas do pior dos óbitos, o existencial. Sófocles camuflou-se na multidão. Alienado numa ideologia coletiva, deixou-se conduzir pela correnteza à sua própria sorte e destino.
     
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Post scripitum I
Não se rotule:
Não ouça o que todos ouvem,
Não se regozije por motivos que alegram a todos,
Não derrame suas lágrimas por aquilo que faz todos chorarem,
Não ande como todos andam,
Não cante o que todos cantam,
Não pense como todos pensam

Post scriptum II

É tempo de rever conceitos e voltar à consciência sublime de uma mente sincera e um coração andarilho.
A todos vós, andarilhos à procura de sua pátria, erga os olhos para o alto porquanto próxima está a vossa redenção.


Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.
Mateus 7:13-14


Oppositer

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