"A filosofia de Hegel parece anteceder algumas descobertas da física quântica na descrição da realidade. Para ele, o Universo, as coisas que existem, eu, você, todos nós, não somos um conjunto de corpos, de átomos, ou de partículas subatômicas.
O universo é uma enorme teia de relações. As coisas (eu, você, todos e tudo) são como uns nós em um rede de pescador, são pontos que só existem pq, antes, há fios que se entrelaçam. A rede, e não os nós, é a realidade autônoma. E ele parece estar certo.
A modernidade nos apresentou os 104 elementos químicos, que formariam qualquer dos corpos. Depois, estes elementos foram decompostos em átomos. Em seguida, nova dissolução dos átomos em partículas subatômicas, que se decompôs nos quarks, e, finalmente, surge a teoria (ainda não demonstrada experimentalmente) da Supercorda. A corda, que vibrando em várias dimensões, gera as partículas subatômicas. O que existe surge de uma "corda", de uma teia que vibra. Não é a coisa isolada que existe, é a rede de relações.
Sem ter lido Hegel, sem conhecer a física quântica, o Cacique Seattle parecia já saber disso. Ao responder ao governo americano, que queria comprar suas terras, questionou como poderia vender algo do qual ele, e seu povo, faziam parte? E ensinou ao homem branco: "O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela. O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo".
Talvez isso é o que queira dizer que "somos todos filhos de um mesmo pai", ou, talvez, amar ao próximo é amar a si mesmo, pois ele faz parte de nós."
Texto de Ricardo Melo Jr.
Acrescento: É interessante observar como conceitos filosóficos, como os de Hegel, e ideias provenientes de tradições indígenas, como a do Cacique Seattle, ecoam de certa forma nas descobertas e interpretações da física quântica. Embora essas abordagens possam partir de diferentes contextos culturais e intelectuais, elas convergem em uma compreensão da realidade como uma teia complexa de interconexões, onde a distinção entre sujeito e objeto, entre o observador e o observado, se torna menos nítida. A visão de Hegel sobre o universo como uma rede de relações dinâmicas, onde as coisas individuais derivam sua existência e significado de sua interação dentro de um todo mais amplo, ressoa com a perspectiva da física quântica, que descreve a natureza fundamental da realidade em termos de processos relacionais e interdependentes. Da mesma forma, a sabedoria transmitida pelo Cacique Seattle enfatiza a interconexão entre todas as formas de vida e a responsabilidade compartilhada pela preservação e respeito à teia da vida. Essa perspectiva holística reflete uma compreensão intuitiva da interdependência e da unidade subjacente a todas as coisas, que encontra paralelos nas interpretações mais recentes da física quântica. Assim, mesmo que as linguagens e os contextos variem, essas diferentes tradições de pensamento convergem em uma compreensão profunda da realidade como um todo interconectado, onde as distinções entre sujeito e objeto, entre eu e o outro, se tornam menos rígidas, e onde a ação de um indivíduo reverbera através da teia da existência, afetando a todos.