No tic-tac do relógio velho que bate descompassado, a madrugada não se demora
em passar. O sol em breve retornará. Na alma notívaga, a velha sensação de que
não há nada novo de baixo do sol e de que os dedos se vão mas os anéis
permanecem. A velha lua, o velho chão, a velha cicatriz e o velho rosto no
espelho. Em que pese a escuridão, a madrugada traz à luz o que a alma reluta em
esconder durante o dia.
Nessa sina, o caminho é só de ida e os ensaios já não nos
são permitidos. Ao que parece, neste
teatro da existência, os tempos são maus e a alegria não passa da tristeza desmascarada, uma vez que
o mesmo poço que dá lugar ao riso, por muitas vezes já foi preenchido com
lágrimas, de modo que a tristeza repousa no berço esplêndido sob o qual já
pairou o teu maior deleite. Choro e riso são sinais da vitalidade de quem
aguarda o amanhecer. Pesa em teu peito saber que a justiça não prevalecerá nestes
dias. Teimas. Sentes que envelhece e falas menos, persistindo em perscrutar o insondável.
E nas, palavras do poeta, percebes que o teu retrovisor se embaça, mas nele ainda
espelhas as memórias que te dão esperança.
A vida, contudo, não aguarda reposições e o sol está prestes
a nascer. O sol da justiça virá e trará tudo novo. O velho medo dará lugar à
fé; a velha dor dará lugar ao riso; a velha condenação dará lugar à absolvição;
a velha morte dará lugar à vida. O velho será aniquilado pelo novo. O pródigo
retornará ao lar, o peregrino retomará a caminhada que lhe foi proposta.
Por ora, ao raiar da aurora, a vida te chama e a tua vocação não teme o duro
chão da existência. Revogando os decretos do destino, obedecerás a voz que diz
que o teu tempo se chama hoje. Correndo, andando, tropeçando, caindo e
levantando, seguirás o caminho que te foi proposto, sabendo que o sol que
ilumina o teu caminho decidiu brilhar no teu interior.
Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o
sol da justiça
Malaquias 4:2
n'Ele em quem serei o que ainda não sou
Oppositer