segunda-feira, 19 de julho de 2021
quinta-feira, 20 de maio de 2021
Gol de mão é errado, mesmo quando beneficia nosso time
"Vocês são verdadeiramente meus discípulos se permanecerem fiéis a meus ensinamentos", diz Jesus. "Então conhecerão a verdade e a verdade os libertará" (Jo 8.31-32).
A verdade, ao que parece, é o elo entre os ensinos de Jesus e a nossa liberdade.
Talvez seja por isso que há tanto esforço para tumultuar a verdade, confundir a informação, relativizar a mentira, nivelar fato e opinião, conhecimento e ruído, e tanto apelo por nos manter apaixonados, não pela verdade, mas por uma ideologia ou um político, como numa torcida organizada repetindo o grito de guerra nas arquibancadas.
"O torcedor real de futebol comemora um gol impedido do seu time e prefere ganhar com gol de mão a perder o campeonato", comparou André Pontes. "A gente não pode levar isso para a política. Primeiro, porque você não pode ter um time. Não pode ter uma paixão na política como tem por seu clube. Não pode achar que, para 'acabar a mamata', vale a pena roubar ou vale a pena acabar com as instituições democráticas."
Chegamos a um ponto em que é preciso lembrar: desinformar é errado. Espalhar boatos é errado. Agredir jornalistas é errado. Gol de mão é errado, mesmo quando beneficia nosso time.
Na teoria, parece simples: a paixão nos afasta da verdade; a verdade não pertence a partidos ou ideologias; a verdade nos liberta; a mentira nos aprisiona.
Na prática, contudo, existe um problema sério. Nós gostamos de torcer, de confirmar nossos preconceitos, de encontrar mentiras que confirmem as "nossas verdades", de gritar a cada gol de mão na cadeira cativa das nossas torcidas ideológicas. E há milhões de reais circulando pelas redes sociais com o objetivo de nos manter aprisionados, cantando o grito de guerra, abraçados com os que se alinham conosco, rosnando para os "inimigos", covencidos de que a voz dos lobos é a nossa própria voz - até porque eles aprenderam a falar o nosso linguajar.
ALEXANDRE, Ricardo. E a Verdade Vos Libertará: Reflexões sobre Religião, Política e Bolsonarismo. São Paulo: Mundo Cristão, 2020, p. 223-224.
A Fé nos Lobos
O marketing político — a arte de vestir lobos em pele de ovelha — aprendeu muita coisa a respeito do público evangélico, uma lição que certamente será usada nas próximas eleições.
Aprendeu que os evangélicos são muitos, que estão à venda e que seu preço é baixíssimo: basta que o lobo decore alguns versículos, use alguns termos de nosso vocabulário, prestigie nossos encontros e nos receba nos salões retrofuturistas da Praça dos Três Poderes.
Aprendeu que os evangélicos são moralistas, mas que seu moralismo é seletivo — ao político que prometer dificultar a vida dos gays e dos maconheiros, permitimos que minta, que devaste nossas florestas, que corrompa nossa democracia, que zombe de nossos mortos.
Aprendeu que nossos pastores podem ser cabos eleitorais eficientes e obedientes, que podemos espalhar mentiras nos grupos de WhatsApp das igrejas e até boatos nos púlpitos.
Aprendeu que podemos trocar a lucidez de Jesus pelo emocionalismo de uma disputa entre personagens públicos baseada na propaganda.
Que, em nome de uma ideologia, podemos relativizar a violência e a intimidação contra jornalistas e seus familiares.
Aprendeu que podemos diminuir o nome de Deus até que ele caiba numa disputa eleitoral —mesmo que seja uma disputa repleta de raiva, ódio e mentira.
Aprendeu que, mais que confundir lobos com ovelhas, a igreja evangélica pode até mesmo se oferecer aos lobos famintos.






