quinta-feira, 31 de julho de 2025

Raffaele Lapolla: Um Imigrante Pioneiro em Santa Catarina no Século XIX

 

Raffaele Lapolla: Um Imigrante Pioneiro em Santo Amaro da Imperatriz no Século XIX


Quando Raffaele Lapolla nasceu em 13 de fevereiro de 1833, em Marsico Nuovo, Basilicata, Itália, seu pai, Michele Arcangelo Lapolla, tinha 33 anos e sua mãe, Anna Maria Pasquariello, tinha 28 anos. Ele casou-se com Felicidade Maria Da Conceição em 21 de março de 1868, em Santo Amaro da Imperatriz, Santa Catarina, Brasil. Eles tiveram pelo menos 5 filhos e 7 filhas. Ele faleceu em 20 de abril de 1901, em Palhoça, Santa Catarina, Brasil, com 68 anos



I. Introdução: O Contexto da Imigração Italiana em Santa Catarina no Século XIX


O século XIX marcou um período de intensa imigração para o Brasil, impulsionada por desafios socioeconômicos na Europa e pela demanda por mão de obra nas fronteiras agrícolas brasileiras. Nesse cenário, Santa Catarina emergiu como um destino significativo para esses imigrantes, muitos deles de origem italiana. A imigração italiana para Santo Amaro do Cubatão, apresentou características distintas em comparação com outras regiões do Brasil.1 Essa particularidade do contexto local pode ter influenciado profundamente as experiências de indivíduos como Raffaele Lapolla.

As primeiras iniciativas de colonização italiana em Santa Catarina enfrentaram desafios consideráveis. Um exemplo notável é a colônia "Nova Itália", autorizada em 1836 para receber 180 imigrantes da Sardenha, mas cuja fundação foi abruptamente suspensa pelo Governo Imperial em 1837. A justificativa para essa interrupção foi a percepção de que a Assembleia Legislativa de Santa Catarina havia excedido sua autoridade ao conceder terras aos colonos.2 Esse detalhe histórico ressalta a natureza complexa, por vezes descoordenada e problemática, das políticas imigratórias iniciais e seu impacto direto na vida dos assentados. Raffaele Lapolla, nascido na Itália em 1833, personifica a narrativa desses primeiros imigrantes italianos que buscaram uma nova vida no Brasil. Sua decisão de se estabelecer em Santa Catarina, especificamente em Santo Amaro da Imperatriz, o posiciona como um pioneiro na formação demográfica e cultural da região. Sua trajetória, embora reconstruída a partir de registros fragmentados, oferece uma perspectiva valiosa sobre a experiência mais ampla dos imigrantes da época.


II. A Vida de Raffaele Lapolla: Origens e Estabelecimento no Brasil


Raffaele Lapolla nasceu em 13 de fevereiro de 1833, em Marsico Nuovo, um município situado na região da Basilicata, no sul da Itália.3 Sua origem regional é um dado relevante, pois diferentes partes da Itália contribuíram com fluxos migratórios distintos para o Brasil. Seus pais eram Michele Arcangelo Lapolla, nascido em 1800, e Anna Maria Pascarella, nascida em 1805.3 A compreensão de seu histórico familiar imediato na Itália fornece o pano de fundo para suas origens antes da migração. O sobrenome "Lapolla" em si é de origem italiana, possivelmente derivado de uma característica topográfica, como uma "polla" (um filete de água), ou um nome de lugar na província de Salerno.3









Raffaele Lapolla formalizou seu casamento com Felicidade Maria Da Conceição em 21 de março de 1868, em Santo Amaro da Imperatriz, Santa Catarina, Brasil.3 A data desse casamento é um ponto crucial, indicando sua presença estabelecida na região no final da década de 1860. O casamento de Raffaele em Santo Amaro da Imperatriz em 1868 é um forte indicativo de seu estabelecimento precoce e bem-sucedido na região. Isso ocorreu menos de duas décadas após as tentativas iniciais, e um tanto turbulentas, de colonização italiana em Santa Catarina.2 O fato de ele ter se casado com uma pessoa de nome português, "Felicidade Maria Da Conceição", sugere um grau de integração no tecido social brasileiro existente, em vez de permanecer exclusivamente dentro de uma comunidade imigrante isolada. Esse tipo de casamento interétnico era um caminho comum para os imigrantes solidificarem suas raízes e contribuírem para a população local. A data de seu casamento o posiciona firmemente como um dos primeiros colonos em Santo Amaro da Imperatriz, destacando os estágios iniciais de mistura cultural e demográfica entre as populações imigrantes e pré-existentes na região.

A cronologia de sua vida pode ser resumida da seguinte forma:

  • Nascimento: 13 de fevereiro de 1833, em Marsico Nuovo, Basilicata, Itália.3

  • Casamento: 21 de março de 1868, em Santo Amaro da Imperatriz, Santa Catarina, Brasil.3

  • Morte: 20 de abril de 1901, em Palhoça, Santa Catarina, Brasil, aos 68 anos de idade.3

Embora o casamento de Raffaele e o nascimento de alguns de seus filhos tenham ocorrido em Santo Amaro da Imperatriz 3, seu filho Fernando nasceu em Tubarão em 1882 4, e o próprio Raffaele faleceu em Palhoça em 1901.4 Essa sequência de localidades – Santo Amaro da Imperatriz, Tubarão e Palhoça – aponta para um padrão de movimentação. Essa mobilidade geográfica dentro de Santa Catarina sugere que Raffaele, como muitos imigrantes pioneiros, provavelmente se deslocou em busca de melhores oportunidades, terras disponíveis, ou talvez seguindo redes familiares ou comunitárias estabelecidas à medida que novos assentamentos se desenvolviam. Há registros de que D. Felicidade Lapolli e dois de seus filhos, acompanhados por uma criada, viajaram de Laguna no vapor "Laguna", indicando a mobilidade da família. Sua vida não foi estática, mas sim dinâmica, refletindo os padrões mais amplos de migração interna característicos da expansão colonial no Brasil do século XIX.

Raffaele Lapolla faleceu em 20 de abril de 1901, na localidade de Aririu, na Vila da Palhoça, Santa Catarina. A causa de seu óbito foi declarada como "asphyxia por submersão" (asfixia por submersão ou afogamento). A declaração de seu falecimento foi feita por José Lapollo, que compareceu ao cartório em Palhoça para registrar o ocorrido. 13


III. Família e Descendência de Raffaele Lapolla


Felicidade Maria Da Conceição casou-se com Raffaele Lapolla em 21 de março de 1868, em Santo Amaro da Imperatriz.3 Ela foi a matriarca da família Lapolla no Brasil e mãe de todos os seus filhos conhecidos. Seu nome português, como já observado, sugere uma origem local ou um grau de assimilação à cultura brasileira.



Raffaele e Felicidade foram pais de uma família numerosa, com "pelo menos 5 filhos e 7 filhas", totalizando um mínimo de 12 crianças.3 Outras informações genealógicas nomeiam explicitamente sete de seus filhos: Antonio Lapolla, Fernando Lapolla, Ines Lapolla, Maria Lapolla, Emilia Lapolla, Amaro Lapolla e José Lapolla.4 Uma certidão de batismo também confirma a existência de Anna Lapolla, filha de Raphael Lapolla e Felicidade Lapolla, nascida em novembro. É importante reconhecer uma pequena discrepância entre o número total de filhos mencionados em 3 ("pelo menos 5 filhos e 7 filhas") e os filhos nomeados consistentemente listados em 4 e. Isso pode ser devido a registros incompletos em diferentes bancos de dados genealógicos ou a filhos que não sobreviveram até a idade adulta e, portanto, podem não estar amplamente documentados. Para este relatório, o foco será nos filhos nomeados para os quais há dados específicos disponíveis, observando a possibilidade de uma família maior.

A descendência conhecida de Raffaele Lapolla e Felicidade Maria Da Conceição é detalhada na tabela a seguir:


Descendência Conhecida de Raffaele Lapolla e Felicidade Maria Da Conceição



Nome do Filho(a)

Data de Nascimento

Local de Nascimento

Relação com Raffaele

Fonte

Antônio Lapolla

2 de janeiro de 1869

Santo Amaro da Imperatriz, Santa Catarina, Brasil

Filho

13

Amaro Lapolla

6 de junho de 1870

Santo Amaro da Imperatriz, SC, Brasil

Filho

4

Fernando Lapolla

7 de junho de 1882

Tubarão, SC, Brasil

Filho

4

Anna Lapolla

Novembro (ano não especificado)

(Local não especificado)

Filha

13

Inês Lapolla

(Data não especificada)

(Local não especificado)

Filha

4

Maria Lapolla

(Data não especificada)

(Local não especificado)

Filha

4

Emília Lapolla

(Data não especificada)

(Local não especificado)

Filha

4

José Lapolla

(Data não especificada)

(Local não especificado)

Filho

4

Alcebíades Lapolli

1890

(Local não especificado)

Neto (filho de Antônio)

13

Adenide Lapolli

1918

(Local não especificado)

Bisneta (filha de Alcebíades)

13

O número substancial de filhos de Raffaele e Felicidade (pelo menos sete nomeados, potencialmente até doze) 3 é uma característica demográfica fundamental da vida colonial no século XIX. Em contextos pioneiros, famílias grandes não eram apenas uma norma social, mas uma necessidade econômica. Os filhos forneciam mão de obra essencial para o estabelecimento e a manutenção de pequenas propriedades agrícolas 5, que eram a espinha dorsal dos assentamentos de imigrantes. A unidade familiar era o motor principal para a sobrevivência econômica, o desenvolvimento da terra e o estabelecimento de uma presença duradoura em um ambiente novo e frequentemente desafiador. Os locais de nascimento também reforçam a adaptação e o movimento da família dentro de Santa Catarina. A apresentação dessas informações em formato de tabela é valiosa para uma compreensão clara da composição familiar e da dispersão geográfica.


Antônio Lapolla, filho de Raffaele Lapolla, aproximadamente no final do século XIX





Alcebíades Lapolli e família (década de 1920, em Tubarão/SC)

Alcebíades Lapolli, neto de Raffaela Lapolla (Imagem restaurada)


Alcebíades Lapolli, neto de Raffaela Lapolla (Imagem restaurada)





IV. Modo de Vida e Atividade Profissional em Santo Amaro da Imperatriz


A experiência geral dos imigrantes italianos em Santa Catarina na segunda metade do século XIX foi marcada por desafios significativos e um "modo de vida" exigente. Muitos desses imigrantes não eram agricultores de ofício ao chegar , mas foram cruciais no desmatamento de florestas densas para estabelecer pequenas propriedades agrícolas. Essas propriedades eram frequentemente organizadas ao longo das "linhas" (estradas vicinais) que geralmente seguiam os vales dos rios, formando a paisagem agrícola nascente da região.  

Relatos da época, como os do Padre Arcângelo Ganarini, que atuou como vigário em Santo Amaro da Imperatriz a partir de 1882, oferecem descrições vívidas das experiências dos colonos. Ganarini observou o "desencanto" sentido por muitos à sua chegada, citando problemas como a falta de demarcação clara das terras, habitações rudimentares construídas com folhas de palmito ou tábuas ásperas, e estradas precárias, muitas vezes intransitáveis devido à lama. Ele também notou a pobreza geral, refletida em pessoas "descalças e mal-vestidas". Esses detalhes pintam um quadro nítido das duras realidades e das condições árduas enfrentadas por esses primeiros colonos. Contextos econômicos mais amplos, como a limitada relevância econômica de certas províncias para o Império durante grande parte do século XIX (por exemplo, o Espírito Santo, com o cultivo de cana-de-açúcar, não se tornando um grande polo de atração, conforme mencionado em ), sugerem que a prosperidade econômica não era facilmente alcançada por muitos imigrantes. Além disso, questões de "desordem" e "fraude" por vezes estavam presentes na fundação de colônias , adicionando outra camada de dificuldade à vida dos imigrantes.   

No contexto do Orçamento Municipal de 1895, Raffaele Lapolla aparece classificado como "sexto taboleiro" no grupo dos "Taboleiros de doces". Essa classificação indica que ele era um vendedor ambulante de doces, utilizando tabuleiros (bandejas ou caixas) para expor e comercializar seus produtos nas ruas. Essa era uma categoria comum de comércio ambulante no século XIX. A designação "sexto taboleiro" não se refere a uma atividade diferente, mas sim a uma subclassificação ou categoria fiscal. O município provavelmente dividia os vendedores em níveis (primeiro, segundo, terceiro, etc.) com base no porte do negócio (tamanho do tabuleiro, quantidade de mercadoria), na renda presumida ou no valor do imposto a ser pago. Assim, Raffaele Lapolla era um vendedor de doces classificado no 6º nível/tabela de tributação, o que provavelmente indicava um menor porte do negócio ou menor volume de vendas em comparação com as categorias superiores.








V. Investigação sobre Prisão e Absolvição de Raffaele Lapolla





Segundo dados extraídos da Hemeroteca Nacional, Raffaele Lapolla esteve, de fato, envolvido em um processo criminal significativo em Santa Catarina. Na noite de 19 de março, o italiano Felicio Bricio (também referido como Felicio Riscio ou Ricci), residente em Santo Amaro do Cubatão, foi barbaramente assassinado em sua residência, com dois golpes de facão, um na cabeça e outro no pescoço. O subdelegado da freguesia iniciou o auto de corpo de delito para descobrir o autor do crime. Em 5 de abril, Raffaele Lapolla foi preso na cidade de São José, por ordem do Juiz Municipal da comarca, sob a acusação de ser o assassino de Felicio Riscio. Um ofício ao chefe de polícia também o autorizou a dirigir-se à freguesia de Santo Amaro do Cubatão para investigar o assassinato do italiano Felicio Riscio. [13],

O julgamento de Raffaele Lapolla teve lugar em 17 de fevereiro de 1877. Ele foi processado com base no artigo 271 do Código Criminal, pela morte de Felicio Ricci, que ocorreu em 18 de março do ano anterior (1876), na freguesia de Santo Amaro do Cubatão. O promotor público, Capitão Antonio Luiz Ferreira de Mello, defendeu a tese da culpabilidade de Lapolla e pediu a pena de morte para ele, em um "crime que constava dos autos".

A defesa de Raffaele Lapolla foi conduzida pelos advogados Manoel José de Oliveira e Francisco Tolentino Vieira de Souza. A defesa trabalhou para provar a inocência do acusado, argumentando que ele era "victima da mais torpe e vil calumnia". Para isso, foram utilizados o processo, os autos de corpo de delito, a autópsia e a exumação do cadáver da vítima, além do exame das pegadas e dos depoimentos das testemunhas da acusação, especialmente Augusto e Carlos Sternen, que participaram do inquérito policial. Os médicos Drs. Schutel e Argolo também foram mencionados por seus exames que corroboraram a defesa, indicando que a morte foi causada por um instrumento contundente e não cortante, o que se alinhava com a inocência do acusado.,

Após os debates, o juiz de direito resumiu as questões ao júri, que se retirou para votar. Por unanimidade, o júri negou os quesitos constitutivos do crime e julgou os demais prejudicados, resultando na absolvição de Raffaele Lapolla. A sentença de absolvição foi lavrada pelo presidente do tribunal, e Raffaele foi imediatamente solto, gozando de plena liberdade. Ele havia sofrido 11 meses de prisão preventiva injustamente, causada por um despacho de pronúncia que foi proferido em grau de recurso pelo juiz de direito substituto Domiciano Barbosa da Silva.

A absolvição de Raffaele Lapolla foi celebrada, com o reconhecimento de que a justiça havia sido administrada. O resultado do julgamento permitiu que o "estrangeiro laborioso e pai extremoso" retornasse à sociedade, à sua esposa e aos seus sete filhos inocentes, após ter sido vítima de uma acusação motivada por "intriga e inveja".,

Embora a pesquisa inicial não tenha encontrado registros diretos sobre este processo 3, a análise dos arquivos de jornais da época revelou detalhes cruciais sobre a prisão, o julgamento e a absolvição de Raffaele Lapolla, demonstrando a importância da pesquisa em fontes primárias para a reconstrução de eventos históricos.







Coluna - Cacau Menezes 2024



VI. A Variação do Sobrenome: De Lapolla a Lapolli


O sobrenome "Lapolla" é de origem italiana, com raízes que podem ser traçadas a termos topográficos como "polla" (um filete de água) ou a nomes de lugares na província de Salerno. É um sobrenome particularmente presente na região da Basilicata, no sul da Itália, de onde Raffaele Lapolla era originário. 3 A etimologia do sobrenome também sugere uma origem latina, com "Lapolla" ou "La Polla" podendo significar "pequeno frango" ou "pintinho". Há registros de famílias Lapolla antigas e nobres, inscritas no Livro de Ouro da Nobreza Italiana, com brasões de armas próprios. 15


A variação do sobrenome de "Lapolla" para "Lapolli" em Santa Catarina é um fenômeno comum na história da imigração italiana para o Brasil e pode ser atribuída a diversas razões:

  • Abrasileiramento e Adaptação Fonética: Com a chegada dos imigrantes ao Brasil, era muito frequente que seus nomes e sobrenomes fossem "abrasileirados" para se adequarem à fonética e à ortografia da língua portuguesa. A terminação "-a" em "Lapolla" pode ter sido percebida como uma desinência feminina em português, levando à alteração para "-i" ("Lapolli"), que é uma terminação mais comum para sobrenomes masculinos ou neutros em italiano e que se adaptava melhor à pronúncia local. 16

  • Erros de Registro e Transcrição: No século XIX, os registros civis e eclesiásticos no Brasil eram frequentemente realizados por oficiais que não dominavam a língua italiana. A barreira linguística, a caligrafia da época e a falta de padronização nos registros podiam levar a erros de transcrição ou interpretação dos sobrenomes. Um registrador poderia simplesmente ter ouvido "Lapolli" ou escrito de forma diferente do original. 16

  • Simplificação Intencional pelos Próprios Imigrantes: Alguns imigrantes optavam por simplificar ou modificar seus sobrenomes para facilitar a integração na nova sociedade, evitar preconceitos ou simplesmente para que fossem mais facilmente pronunciados e lembrados pelos brasileiros.

  • Variações Regionais na Itália: Embora "Lapolla" seja predominante em Basilicata, é possível que existissem variações regionais do sobrenome na Itália que também chegaram ao Brasil, ou que a adaptação para "Lapolli" já fosse uma forma existente em outras regiões italianas. O sobrenome "Lapolli" também possui um grande número de registros históricos. 17

  • Manutenção da Herança Cultural: Apesar das mudanças, a essência da herança italiana, incluindo sobrenomes e tradições, permaneceu viva em Santa Catarina, mesmo após gerações. 18

A ocorrência de "abrasileiramentos" e mudanças fonéticas em sobrenomes de imigrantes é um desafio comum na pesquisa genealógica para cidadania italiana, exigindo, muitas vezes, a retificação de certidões para garantir a consistência dos registros. 16 No caso de Raffaele Lapolla, a coexistência das grafias "Lapolla" e "Lapolli" em diferentes documentos e gerações de sua família é um reflexo direto dessas dinâmicas históricas de adaptação e registro no Brasil.


VII. Conclusão: O Legado de Raffaele Lapolla


Raffaele Lapolla (1833-1901) foi uma figura representativa na onda de imigração italiana para Santa Catarina, Brasil. Originário da Basilicata, Itália, ele estabeleceu sua vida em Santo Amaro da Imperatriz, onde se casou com Felicidade Maria Da Conceição em 1868. Ele se tornou o patriarca de uma notável linhagem familiar na região, com pelo menos sete filhos nomeados, e potencialmente mais, desempenhando um papel no crescimento demográfico da comunidade imigrante. Os movimentos geográficos de sua família, evidenciados por locais de nascimento em Santo Amaro da Imperatriz e Tubarão, e sua própria morte em Palhoça, refletem a natureza dinâmica do assentamento e da busca por oportunidades em Santa Catarina no século XIX. Embora os detalhes específicos de sua profissão permaneçam indocumentados no material fornecido, sua vida provavelmente espelhou o árduo "modo de vida" característico dos colonos italianos na região, envolvendo trabalho agrícola e adaptação a um novo ambiente desafiador.

Crucialmente, a pesquisa aprofundada revelou que Raffaele Lapolla enfrentou um grave processo criminal, sendo acusado de assassinato e submetido a um julgamento que poderia ter resultado na pena de morte. No entanto, ele foi absolvido por unanimidade pelo júri, após sua defesa provar sua inocência e demonstrar que a acusação era baseada em calúnias, intrigas e inveja. Ele foi libertado após 11 meses de prisão preventiva injusta, retornando à sua família e à sociedade. Este episódio destaca não apenas os desafios pessoais que os imigrantes podiam enfrentar, mas também a complexidade do sistema judicial da época e a resiliência de indivíduos como Raffaele.

A variação do sobrenome de "Lapolla" para "Lapolli" é um exemplo das adaptações linguísticas e burocráticas que muitos imigrantes italianos enfrentaram no Brasil, refletindo a dinâmica de integração e a evolução dos registros civis na época.




Referências citadas

  1. Imigrantes italianos em Santo Amaro: de agricultores a empresários (1886-1935) - BDTD, acessado em julho 30, 2025, https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/USP_2e19afd7e4f39b45f8d39d28f938c55b

  2. Colônia Vargem Grande - PREFEITURA MUNICIPAL DE ÁGUAS MORNAS, acessado em julho 30, 2025, https://aguasmornas.sc.gov.br/pagina-34921/

  3. Raffaele Lapolla (1833–1901) - Ancestors Family Search, acessado em julho 30, 2025, https://ancestors.familysearch.org/en/9JTY-1R2/raffaele-lapolla-1833-1901

  4. Raffaelle Lapolla (1833 - 1901) - Genealogy - Geni, acessado em julho 30, 2025, https://www.geni.com/people/Raffaelle-Lapolla/6000000053361533355

  5. PERCURSOS HISTÓRICOS E PAISAGENS CULTURAIS: O LEGADO DOS IMIGRANTES EM SANTA CATARINA - Portal de Periódicos UFU, acessado em julho 30, 2025, https://seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/download/39704/24312/187514

  6. O imigrante e a literatura ítalo-catarinense, acessado em julho 30, 2025, https://periodicos.ufsc.br/index.php/travessia/article/download/17575/16149/54175

  7. VICTOR GUSTAVO DE SOUZA BRASIL, O PAÍS DAS MARAVILHAS TROPICAL: Guias para emigrantes, propaganda, acessado em julho 30, 2025, https://repositorio.unesp.br/bitstream/11449/202792/3/souza_vg_me_assis.pdf

  8. O patrimônio cultural da imigração em Santa Catarina - IPHAN, acessado em julho 30, 2025, http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/o_patrimonio_cultural_da_imigracao_santa_catarina.pdf

  9. | ARTIGOS, acessado em julho 30, 2025, http://lexcult.trf2.jus.br/index.php/LexCult/article/download/388/269/

  10. Acervo - Memória - Poder Judiciário de Santa Catarina, acessado em julho 30, 2025, https://www.tjsc.jus.br/web/memoria/acervo

  11. Arquivo - Memória - Poder Judiciário de Santa Catarina, acessado em julho 30, 2025, https://www.tjsc.jus.br/web/memoria/arquivo

  12. Imigrantes - Arquivo Publico de SC, acessado em julho 30, 2025, https://acervo.arquivopublico.sc.gov.br/index.php/imigrantes?sort=referenceCode&places=450&sf_culture=en&sortDir=asc&listLimit=50

  13. São Jose-1876-Felicio Rescio-Augusto Carlos Steden-Pedro Carlos Steden.pdf

  14. acessado em dezembro 31, 1969, uploaded:Image 5

  15. Afrânio Mello fornece informações sobre a familia Lapolla, La Polla ..., acessado em julho 30, 2025, https://jornalrol.com.br/?p=2358

  16. Corrigir o nome e o sobrenome do italiano e dos descendentes, acessado em julho 30, 2025, https://aquilacompany.com.br/2024/02/preciso-corrigir-o-nome-e-o-sobrenome-do-italiano-e-dos-descendentes-em-todas-as-certidoes/

  17. Lapolli Name Meaning and Lapolli Family History at FamilySearch, acessado em julho 30, 2025, https://www.familysearch.org/en/surname?surname=lapolli

  18. 150 anos da imigração italiana em SC: Tradição que atravessa gerações - YouTube, acessado em julho 30, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=dkS6jbBBY6c

  19. 150 anos da imigração italiana em SC: uma história de tradição e cultura | Vídeo - ND Mais, acessado em julho 30, 2025, https://ndmais.com.br/video/150-anos-da-imigracao-italiana-em-sc-uma-historia-de-tradicao-e-cultura/

Nenhum comentário:

Postar um comentário