terça-feira, 20 de maio de 2014

Quando me vejo de longe


A vida tem lá seus percursos e os céus deixam seus sinais, a verdade é tanta que até mesmo as aves do céu são hábeis a compreender seus insondáveis ciclos e suas mudanças. Ora, o que hoje se vê aqui é o que ontem havíamos ansiado, se não for assim, talvez tenhamos ansiado pouco. O tempo escorre e a alma já não se exprime e se comunica com  as palavras de outrora, mas quando assim o faz, vê-se que não restam palavras ou fonemas capazes de exprimir o que se passa no âmago de quem pensa, sente e respira.

Momentos há, e não são poucos, em que é preciso voltar, recolher-se e tornar ao lugar onde tudo começa e termina, num ciclo das mais distantes eternidades transitórias da alma transeunte. Clareza e limpidez sempre serviram de óbice, afinal a vida não aderiu a tão almejada obviedade na qual nada paira senão a inexistência do encanto e da beleza. Imerso numa subjetividade peculiar aos notívagos, retorna-se ao lar.

Envolto num volver sem fim, avança-se ao que passou. Tornar ao passado é um exercício que todo homem faz, ainda que de forma tímida ou escondida, porquanto é lá que encontramos os arquétipos de quem somos, num apanhado de morte, vida, sonhos, delírios, amores, amigos, cheiros, sorrisos, lágrimas e lembranças do tempo que escorreu entre os dedos de nossas mãos.

Ah, quem dera voltar! Voltar ao tempo em que tudo nos encantava e nada nos tirava o prazer de ousar e tentar ser o que jamais fomos.

Por isso escrevo. Nas letras não há limites. Não almejamos compreensão, pelo que compreender é enclausurar, e, por tal razão, meu amigo, escancare a alma e deixe com que o teu interior retorne ao lugar onde tudo era motivo para mais.

Sim, aguardei ansiosamente pelo inverno. O verão tem lá seus encantos, mas é na solitude e na madrugada fria que a vida se encarrega de resplandecer as dracmas perdidas no ímpeto da nossa negligência. No muito falar e nos discursos gélidos ou inflamados paira a confusão de espírito. Ansiei pelo inverno e descobri que não há verão primaveril sem que antes haja o repouso em berço esplêndido do inverno existencial.

Quando me vejo de longe, escrevo.


O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.
Salmos 30:5

n'Ele, em quem serei o que ainda não sou.
Oppositer


Um comentário:

  1. Esperando um Livro de sua autoria :)
    Seus textos não são apenas palavras vazia , mas tu expõe elas com sentido ! E isso que da vida em um texto .
    By : Jerusa Fernandes

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